TRADIÇÃO DE FAMÍLIA
Falar da minha vivência dentro da Quimbanda não é algo que se mede em palavras ou em tempo. É uma experiência que pulsa no corpo, que molda a alma e transforma a vida. Não se trata apenas de religiosidade — é pertencimento, é raiz, é herança que atravessa o tempo. Venho de uma Tradição de mais de 100 anos de história, passada de geração em geração com zelo, firmeza e respeito. Uma Tradição que foi mantida com dignidade por muitos antes de mim, e que hoje é sustentada com sabedoria e serenidade por meu Pai espiritual, Pai Ricardo de Oyá — homem de fé, fundamento e missão. Ser iniciado por ele foi, para mim, um divisor de águas. Através dele, fui conduzido não apenas à Quimbanda, mas também ao Batuque e à Umbanda, três forças que, embora distintas, se entrelaçam na minha vivência com harmonia e profundidade.
Essas iniciações não foram simbólicas: foram experiências transformadoras. Foram portas abertas que exigiram coragem para atravessar, disciplina para permanecer e humildade para aprender. Aprendi que espiritualidade de verdade não é espetáculo, não é vaidade, e muito menos conveniência. É entrega. É silêncio. É escuta.
A Quimbanda que vivo é feita de suor, de chão batido, de ponto riscado com fé. É feita de Exú que ensina com firmeza e justiça, e de Pombagira que cura com amor e força. É feita de experiências reais, de ritos vividos, de dores atravessadas e de axés conquistados com luta.
Em tempos aonde tudo se tornou imediato, onde as redes sociais transformam fundamentos em frases de efeito e fé em consumo é fácil perder a noção do que é sagrado. Muitos atropelam o tempo, ignoram os processos e esquecem que na espiritualidade não existe atalho.
A pressa é inimiga da tradição e sem vivência, não há fundamento que se sustente.
Por isso, sigo firme. Firme na missão de honrar a Tradição que me formou, de preservar os saberes que recebi e de compartilhar esse conhecimento com quem caminha com verdade. Não me movo por vaidade. Me movo por dever. Por gratidão. E por consciência de que carrego em mim um legado que não me pertence sozinho.
A Quimbanda não é palco!
É território sagrado. E enquanto eu respirar, ela seguirá viva em mim — com respeito, com firmeza e com fé.
Minha trajetória na Quimbanda não seguiu um caminho baseado apenas em graus iniciáticos. Ela se construiu através de vivências reais, de escuta e aprendizado com meu Pai, de respeito profundo aos tempos e processos que a Tradição exige. Nunca houve pressa, nunca houve improviso. Cada passo foi dado com responsabilidade e reconhecimento de que o verdadeiro aprendizado vem da vivência, não da pressa.
Quem sempre tomou a frente da minha vida espiritual foi o Exú Pinga Fogo — o Exú que me guia, me protege e me orienta. É a ele que devo a própria continuidade da minha vida, pois em muitos momentos foi ele que segurou a minha alma e me colocou em pé. É por isso que, mais uma vez, é ele que conduz o rumo da Quimbanda Labhanã trazendo agora uma nova referência, os graus iniciáticos: a organização e a transmissão consciente dos fundamentos de maneira estruturada, acolhedora e verdadeira para com os novos(as) iniciados(as).
O nome Quimbanda Labhanã nasce como uma homenagem a esse grande Exú, Seu Pinga Fogo, que me guia com rigor e firmeza, mas também com amor e sabedoria. Labhanã é mais que um nome — é identidade espiritual, é força de linhagem, é uma bandeira erguida em honra àqueles que me guiam e sustentam este caminho.
Com o tempo, aprendi a respeitar não apenas o rito, mas o silêncio do rito. Aprendi a ouvir os guias mesmo quando não havia palavras. Aprendi a falar pouco e fazer muito. Aprendi a ser ponte entre o que fui e o que estou me tornando.
E continuo aprendendo — porque quem pensa que já sabe tudo, já se afastou da humildade e do axé.
Hoje em diante de um cenário aonde muitos abandonam fundamentos em troca de visibilidade, sigo no propósito de manter viva a tradição com verdade e profundidade. A espiritualidade que vivo não é moda. É resistência. É fé enraizada. É fogo que não se apaga.
Familia Labhanã